ARTE CONTEMPORÂNEA OU: CINCO FORMAS DO FEIO PRA CHUTAR O PAU DA BARRACA


Felix Rego
Durante muito tempo o Feio foi banido das análises teóricas no domínio estético, por duas razões principais: devido ao usocapião do Belo naquele domínio, e também devido à tradição metafísica que carimbou o Feio como o lado negativo do Belo.
Porém, com a ampliação do seu próprio conceito a partir do século XX, a arte tornou-se reflexiva e incorporou o Feio para questionar seus próprios fundamentos.
Se antes disso o Feio era apenas tolerado na arte, já que a supremacia do Belo o anulava como categoria estética, o Feio deu a volta por cima e foi integrado justamente por seu caráter repulsivo.
Ou seja: a arte contemporânea libertou o Feio da maldição de ser eternamente um reles negativo fantasmático do Belo.
Ao abarcarem para si material impuro e ao se recusarem a ocultar as forças opostas, de cuja exclusão resultam as unidades abstratas e universais das sociedades, as diversas formas do Feio na arte contemporânea parecem ter um objetivo comum: contestar o perfil da sociedade homogênea, suas convenções e poder.
Eis as cinco principais formas do Feio, para chutar o pau da barraca:
1. HUMOR: É o FEIO LIGHT. Como matéria risível, o que o humor faz é ampliar e expor o detalhe, transgredindo as normas. O humor é um strip-tease impossível da realidade.
2. KINISMO: É o FEIO INTERVENCIONISTA de caráter radical, que bate de frente com as convenções sociais e os poderes estabelecidos.
3. GROTESCO: É o FEIO ANTI-METAFÍSICO por excelência, adepto da destruição das hierarquias e do nivelamento geral. Suas principais formas atuais são caracterizadas pelo "corpo aberto" e pelo "hibridismo".
4. ARTE ABJETA: É o FEIO REVOLTADO contra o processo de formação da identidade. Sua matéria prima predileta são os materiais abjetos e os tabus recalcados pela sociedade.
5. MONSTRUOSO: É o FEIO DESUMANIZADO, a perda do elemento humano. A supressão das desigualdades dentro de um sistema opressor, que prima pela perfeição. O monstruoso é a face cristalizada da morte.